Meu manifesto com o mundo fotográfico em 5 tópicos

Análise do livro: Sobre Fotografia – Susan Sontag (compre pelo link e nos ajude)

“A fotografia era uma autorização para eu ir onde quisesse e fazer o que desejasse”

Susan Sontag

O manifesto ou manifestação nem sempre está relacionado com rebeldia, rebelião ou mesmo retaliação, o sentido que quero dar é apenas uma declaração, dizer também que eu ainda estou lutando. Uma breve descrição do livro: “Sobre a fotografia”, livro de Susan Sontag.Nunca um livro chamou tanta minha atenção. Certamente, Susan faz um relato completo, filosófico-histórico sobre a fotografia. Infelizmente ela não está mais entre nós, faleceu em 2004. O livro é uma obra bem premiada e faz um passeio profundo sobre a fotografia. Cada palavra está cercada de ritmo único e descritivo. As análises são sólidas, organizadas. Um exemplo disso é a comparação que Susan faz da realidade com a fotografia, ela comenta: “A fotografia acarreta, inevitavelmente, certo favorecimento da realidade. O mundo passa de estar “lá fora” para estar “dentro” das fotos”.

1 – A liberdadeDentro do manifesto, a fotografia, desperta um certo estado de liberdade e ao mesmo tempo reflexo do que eu gostaria que as “pessoas vissem o que eu vejo” com minha fotografia.

O tornar público. E também, de forma humilde, quase como se quisesse que elas pensassem como eu penso.A fotógrafa norte-americana, Daiane Arbus, faleceu em 1977, bastante citada no livro de Susan, diz: “A fotografia era uma autorização para eu ir onde quisesse e fazer o que desejasse”, escreveu Arbus. A câmera é uma espécie de passaporte que aniquila as fronteiras morais e as inibições sociais, desonerando o fotógrafo de toda responsabilidade com relação as pessoas fotografadas. Toda questão de fotografar pessoas consiste em que não se está intervindo na vida delas, apenas visitando-as. O fotógrafo é um superturista, uma extensão do antropólogo, que visita os nativos e traz de volta consigo informações sobre o comportamento exótico e os acessórios estranhos deles.

2 – O fotógrafo e as descobertas e o tédio?

Sabemos que os temas são os mesmos. Vivemos uma repetição constante em nossa sociedade, tédio. Acredito que é aí que a fotografia se mostra como um veículo diferente. Claro, é o melhor instrumental para isso! Concorda?O “clicar desconhecido”, está ligado ao olhar de cada pessoa em seu próprio mundo. Eu revelo assim, o desconhecido também pode ser no sentido de descobrir, mostrar, quem sabe, transparecer o que está oculto, colocar a luz, a lente, a imagem…, nada de tédio, como é essa relação? Susan, responde: “(…) O fotógrafo sempre tenta colonizar experiências novas ou descobrir maneiras novas de olhar para temas conhecidos – lutar contra o tédio. Pois o tédio é exatamente o reverso do fascínio: ambos dependem de se estar fora, e não dentro, de uma situação, e um conduz ao outro.

3 – A fotografia deve ser fascinante

A batalha entre o tédio e o fascínio é muito grande e presente nos surrealistas. Acredito que a barreira exista, porém é preciso exercitar a imaginação ao máximo. Sentir atração pelo que é novo, e mais, estar preparado para ver dessa maneira. E por fim revelar. Arbus descreve como é esse exercício: “(…) Sinto-me muito pouco atraída a fotografar pessoas conhecidas ou mesmo temas conhecidos”, escreveu Arbus. Eles me fascinam quando nunca ouvi falar a seu respeito”.A relevância em conjunto com a ética dentro do tema deve ser um trilho, roteiro prévio do que se quer fotografar, e também pode se percorrer. Com isso, a ética é uma moeda importante nesse momento, um tesouro. Susan cita grandes nomes da fotografia para reafirmar isso. Ela transfere parte para o fator relevância, autora descreve: “Desde o início, a fotografia profissional propunha-se, tipicamente, a ser a variedade mais abrangente de um turismo de classe, em que a maioria dos fotógrafos combinava uma coleta de dados da degradação social com retratos de celebridades ou de mercadorias (alta moda, publicidade) ou com estudos de nus. Muitas carreiras fotográficas exemplares do século XX (como as de Edward Steichen, Bill Brandt, Henri Cartier-Bresson, Richard Avedon) se desenvolveram por meio de bruscas mudanças de nível social e de relevância ética do tema”. Não devemos nunca nos esquecer disso.

“Desde o início, os fotógrafos não só se atribuíram a tarefa de registrar um mundo em via de desaparecer como foram empregados com esse fim por aqueles mesmos que apressavam o desaparecimento”.

Susan Sontag

4 – O profissional, temas?

Quer um tema, que tal o passado? O que Susan descreve é o que está para desaparecer, isso a cada dia parece menos distante de acontecer, poluição, tragédias ambientais, escândalos, Susan descreve: “O passado mesmo, uma vez que as mudanças históricas continuam a se acelerar, transformou-se no mais surreal dos temas – tornando possível, como disse Walter Bejamin, ver uma beleza nova no que está em via de desaparecer. Desde o início, os fotógrafos não só se atribuíram a tarefa de registrar um mundo em via de desaparecer como foram empregados com esse fim por aqueles mesmos que apressavam o desaparecimento”. Totalmente antagonista essa frase revela um ciclo que deve ser rompido. A fotografia de guerra, acredito, era redundante dentro de seu próprio tema. É um exemplo forte dessa análise que Susan descreveu acima.Vamos ser mais práticos, por mais interessante que existam opções, o melhor mesmo é não depender delas. Sair do sistema. O acaso, “momento decisivo total”, derramar a paixão, dentro de tudo isso, Susan afirma: “Assim como o colecionador, o fotógrafo é animado por uma paixão que, mesmo quando aparenta ser paixão pelo presente, está ligada a um sentido do passado. Mas, enquanto as artes tradicionais da consciência histórica tentam pôr o passado em ordem, distinguindo o inovador do retrógrado, o central do marginal, o relevante do irrelevante ou meramente interessante, a abordagem do fotógrafo – a exemplo do colecionador – é assistemática, a rigor, anti-sistemática.”

5 – Tudo isso ao mesmo tempo agora

Um forte combustível para tudo isso é a imaginação, que é o romper-barreiras do comum. As fronteiras, o tédio, a ética, o passado, todas a analogias e análises, de alguma forma tudo está interligado, tudo ao mesmo tempo agora. Para que elas funcionem bem é preciso entusiasmo e acima de tudo honestidade, Susan reafirma muito bem isso: “O entusiasmo do fotógrafo por um tema não tem nenhuma relação essencial com seu conteúdo ou seu valor, aquilo que torna um tema classificável. É, acima de tudo, uma afirmação da existência do tema; sua honestidade (a honestidade de um olhar cara a cara, da ordenação de um grupo de objetos), que equivale ao padrão de autenticidade do colecionador; sua quididade – quaisquer virtudes que o tornam único. O olhar do fotógrafo profissional, sôfrego e superiormente obstinado, é um olhar que não só resiste à classificação e à avaliação tradicionais dos temas, como busca, de forma consciente, desafiá-las e subvertê-las. Por essa razão, sua abordagem do assunto em foco é bem menos aleatória do que em geral se alega”.