Hofmann, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação de identidade deteriorada
4ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

Por Daniela Rabelo

Estava sentada em sala de aula e meu professor e amigo me disse: Goffman. Dentre inúmeras contribuições para a SociologiaErving Goffman diretamente fala com um dos tópicos centrais de minha pesquisa: estigmatização. E bem no início do curso já comprei o livro e li uma vez.

Separei o mês de julho para dar uma segunda leitura, mais profunda e refletida, sentindo a contribuição que ele pode proporcionar a quem se interessa em conhecer o ser humano em suas interações. E tive que vir aqui escrever sobre o seu grande livro.

O livro se chama Estigma – notas sobre a manipulação da identidade deteriorada, de Erving Goffman. Sabe aquele livro que a cada página, um suspiro? Estigma é assim mesmo. Envolvente e cheio de informações novas sobre a percepção do outro em processos de estigmatização. Não é um livro de ficção, que lemos bem rápido, podia classificá-lo como aquele livro que a gente saboreia a cada página passada.

O livro tem um prefácio e cinco capítulos – Estigma e identidade social, controle de informação e identidade social, alinhamento grupal e identidade do eu, o eu e seu outro e, por último, desvios e comportamento desviante.

E já inicia provocando: o indivíduo que é estigmatizado é inábil para a aceitação social plena. E desde a Grécia nasceu o conceito de estigma como a presença de sinais corporais que evidenciam algo de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem o apresentava. E assim se mantém o conceito até hoje, ampliando-se para uma condição de “desgraça”, exatamente isso.

Então, sabendo agora que o estigma é uma condição ligada a um signo ruim, imagine a situação: você está à frente de um estranho. Surgem evidências que ele possui um atributo diferente. Eu, pessoa normal, em interação com ele, já o categorizo. Esse estranho sai da situação de normalidade para a condição de pessoa estragada e diminuída.  Esse efeito de reduzir o indivíduo, consolida-se na formação de um estigma.

Entendeu? Começa a existir uma discrepância muitas vezes entre como eu o qualifico e o categorizo – identidade social virtual, e sua identidade social real – o que efetivamente ele é.

E tem mais: essa marca pode ser expressa e visível ou mesmo não aparente. Essa pessoa fica na primeira situação como desacreditada e quando a condição é invisível para a ser desacreditável. No livro o autor vai citando situações físicas como as deficiências físicas ou até de condições sociais como a prostituição, e vai evoluindo vários conceitos bem interessantes que nos fazem sair de uma condição de mero expectador da vida para ser reflexivo, que pensa e insiste em não ser mais um no planeta.

Vale muito a leitura envolvente de Erving Goffman. E em um mundo que se revela cada vez mais intolerante com o outro, entender os estigmas possibilita maior conexão com os vulneráveis e vulnerados.

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